Sábado, 24 de Abril de 2010
Assunto: CARTA DE UM ALUNO AO PROFESSOR DE HISTÓRIA
Esta carta foi-me enviada por um "PORTUGUÊS"
CARTA DE UM ALUNO AO PROFESSOR DE HISTÓRIA
36 ANOS DEPOIS...
Exmo Senhor Professor,
Sou obrigado a escrever-lhe, nesta data, depois de ter escutado, com
toda a atenção, a aula de História, que nos deu sobre a Revolução de
Abril de 1974.
Li todos os apontamentos que tirei na aula e os textos de apoio que me
entregou para me preparar para o teste, que o Senhor Professor irá
apresentar-nos, na próxima semana, sobre a Revolução dos Cravos.
Disse o Senhor Professor que a Revolução derrubou a ditadura
salazarista e veio a permitir o final da Guerra Colonial, com a
conquista da Liberdade do Povo Português o dos Povos dos territórios
que nós dominávamos e que constituíam o nosso Império.
Afirmou ainda que passámos a viver em Democracia e que iniciámos uma
nova política de Desenvolvimento, baseada na economia de mercado.
Informou-nos também que a Censura sobre os órgãos de Comunicação Social
terminara e que a PIDE/DGS, a Polícia Política do Estado Fascista
acabara, dando a possibilidade aos Portugueses de terem liberdade de
expressão, opinião e pensamento. Hoje, todos eles podem exprimir as
suas opiniões nos jornais, rádio, televisão, cinema e teatro, sem
receio de serem presos.
Disse igualmente que Portugal era um país isolado no contexto
internacional e que agora fazemos parte da União Europeia e temos
grande prestígio no mundo. Que somos dos poucos países da União a
cumprir, na íntegra, os cinco critérios de convergência nominal do
Tratado de Maastricht para fazermos parte do pelotão da frente com
vista ao Euro.
Li os textos de apoio do Professor Fernando Rosas, onde me informam que
os Capitães de Abril são considerados heróis nacionais, como nunca
houvera antes na nossa história, e que eles são os responsáveis por
toda a modernidade do nosso país, pois se não tivesse acontecido a
memorável Revolução, estaríamos na cauda da Europa e viveríamos em
grande atraso, em relação aos outros países, e num total obscurantismo.
Tinha já tudo bem compreendido e decorado, quando pedi ao meu pai que
lesse os apontamentos e os textos para me fazer perguntas sobre a tal
Revolução, com vista à minha preparação para o teste, pois eu não
assisti ao acontecimento histórico, por não ter ainda nascido, uma vez
que, como sabe, tenho apenas dezasseis anos de idade.
Com o pedido que fiz ao meu pai, começaram os meus problemas pois ele
ficou horrorizado com o que o Senhor Professor me ensinou e chamou-lhe
até mentiroso porque conseguira falsificar a História de portugal. Ele
disse-me que assistira à Revolução dos Cravos dos Capitães de Abril e
que vira com «os olhos que a terra há-de comer» o que acontecera e as
suas consequências.
Disse-me que os Capitães foram os maiores traidores que a nossa
História conhecera, porque entregaram aos comunistas todo o nosso
império, enganando os Portugueses e os naturais dos territórios, que
nos pertenciam por direito histórico. Que a Guerra no Ultramar
envolvera toda a sua geração e que nela sobressaíra a valentia dum povo
em armas, a defender a herança dos nossos maiores.
Que já não existia ditadura salazarista, porque Salazar já tinha
morrido na altura e que vigorava a Primavera Marcelista que,
paulatinamente, estava a colocar Portugal na vanguarda da Europa. Que
hoje o nosso país, conjuntamente com a Grécia, são os países mais
atrasados da Comunidade Europeia.
Que Portugal já desfrutava de muitas liberdades ao tempo do Professor
Marcelo Caetano, que caminhávamos para a Democracia sem sobressaltos,
que os jovens, como eu, tinham empregos assegurados, quando terminavam
os estudos, que não se drogavam, que não frequentavam antros de deboche
a que chamam discotecas, nem viviam na promiscuidade sexual, que hoje
lhes embotam os sentidos.
Disse-me também que ele sabia o que era Deus, a Pátria e a Família e
que eu sou um ignorante nessas matérias. Aliás, eu nem sabia que a
minha Pátria era Portugal, pois o Senhor Professor ensinou-me que a
minha Pátria era a Europa.
O meu pai disse-me que os governantes de outrora não eram corru pt os e
que após o 25 de Abril nunca se viu tanta corrupção como actualmente.
Também me disse que a criminalidade aumentara assustadoramente em
Portugal e que já há verdadeiras máfias a operar, vivendo à custa da
miséria dos jovens drogados e da prostituição, resultado do abandono
dos filhos de pais divorciados e dum lamentável atraso cultural, em
virtude de um Sistema Educativo, que é a nossa maior vergonha, desde há
mais vinte anos.
Eu fiquei de boca aberta, quando o meu pai me disse que a Censura
continuava na ordem do dia, porque ele manda artigos para alguns
jornais e não são publicados, visto que ele diz as verdades, que são
escamoteadas ao Povo Português, e isso não interessa a certos orgãos de
Comunicação Social ao serviço de interesses obscuros.
O meu pai diz que o nosso país é hoje uma colónia de Bruxelas, que nos
dá esmolas para nós conseguirmos sobreviver, pois os tais Capitães de
Abril reduziram Portugal a uma «pobreza franciscana» e que o nosso país
já não nos pertence e que perdemos a nossa independência.
Perguntei-lhe se ele já ouvira falar de Mário Soares, Almeida Santos,
Rosa Coutinho, Melo Antunes, Álvaro Cunhal, Vítor Alves, Vítor Crespo,
Lemos Pires, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves, Costa Gomes, Pezarat
Correia... Não pude acrescentar mais nomes, que fixara com enorme
sacrifício e trabalho de memória, porque o meu pai começou a vomitar só
de me ouvir pronunciar estes nomes.
Quando se sentiu melhor, disse-me que nunca mais lhe falasse em tais
«sacanas de gajos», mas que decorasse antes os nomes de Vasco da Gama,
Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, D. João II, D. Manuel I, Bartolomeu
Dias, Afonso de Alburquerque, D. João de Castro, Camões, Norton de
Matos, porque os outros não eram dignos de ser Portugueses, mas estes
eram as grandes e respeitáveis figuras da nossa História.
Naturalmente que fiquei admirado, porque o Senhor Professor nunca me
falara nestas personagens tão importantes e apenas me citara os nomes
que constam dos textos do Professor Fernado Rosas.
Senhor Professor, dada a circunstância do meu pai ter visto, ouvido,
sentido e lido a Revolução de Abril, estou completamente baralhado, com
o que o Senhor me ensinou e com a leitura dos textos de apoio. Eu julgo
que o meu pai é que tem razão e, por isso, no próximo teste, vou seguir
os conselhos dele.
Não foi o Senhor Professor que disse que a Revolução nos deu a
liberdade de opinião? Certamente terei uma nota negativa, mas o meu pai
nunca me mentiu e eu continuo a acreditar nele.
Como ele, também eu vou pôr uma gravata preta no dia 25 de abril, em
sinal de luto pelos milhares de mortos havidos no nosso Império,
provocados pela Revolução dos Espinhos, perdão, dos Cravos.
O Senhor disse-me que esta Revolução não vertera uma gota de sangue e
agora vim a saber que militantes negros que serviram o exército
português, durante a guerra, que o Senhor chamou colonial, foram
abandonados e depois fuzilados pelos comunistas a quem foram entregues
as nossas terras.
Desculpe-me, Senhor Professor, mas o meu pai disse-me que o Senhor era
cego de um olho, que só sabia ler a História de Portugal com o olho
esquerdo. Se o Senhor tivesse os dois olhos não me ensinaria tantas
asneiras, mas que o desculpava porque o Senhor era um jovem e
certamente só lera o que o Professor Fernando Rosas escrevera.
A minha carta já vai longa, mas eu usei de toda a honestidade e espero
que o Senhor Professor consiga igualmente ser honesto para comigo, no
próximo teste, quando o avaliar.
Com os meus respeitosos cumprimentos
O seu aluno
Todos os anos, nesta data, se fala em comemorações em todo o país,
mas eu pergunto:
COMEMORAR O QUÊ????